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  • Dr. Alexandre Naime Barbosa

Infestação por Carrapatos pode ser fatal! Conheça a Febre Maculosa Brasileira


Matéria em colaboração com o Portal UOL, publicada em 21/09/2015.


Cavalos, cães e gatos, aves domésticas, roedores e, principalmente, capivaras podem carregar o artrópode infectado, que pode transmitir diversas doenças, entre elas a Febre Maculosa Brasileira (FMB), uma doença grave causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, que pode matar se não for diagnosticada com rapidez e tratada com eficiência. No Brasil, metade das pessoas contaminadas morre.


Outras doenças bacterianas transmitidas são a Doença de Lyme (Borrelioses), a Babesiose e a Erliquiose. Algumas Arboviroses, doenças causadas por vírus, também podem ser passadas pelo carrapato, explica o Infectologista Alexandre Naime Barbosa, da Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu (SP).


"A forma jovem do carrapato é menor que a cabeça de um fósforo, o que dificulta a percepção. Às vezes ele está na nuca, atrás da orelha, nos pelos do tórax e até na bolsa escrotal. A inspeção no corpo deve ser criteriosa depois de ficar em uma área com grama ou animais", explica Cristiane Lamas, médica Infectologista do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas - Fiocruz.


Confira a entrevista com o Prof. Alexandre:


Quais os lugares das grandes cidades onde é mais comum encontrar carrapatos?


R: Locais como margens de rios, represas ou lagos e similares são especialmente perigosos pela potencial presença de capivaras, que é o animal mais importante em termos de infestação por carrapatos. Os carrapatos mais perigosos à saúde humana no Brasil são da espécie Amblyomma cajennense (Carrapato-Estrela, e sua forma jovem, o Micuim), e se infectados pela bactéria Rickettsia rickettsii, podem transmitir a Febre Maculosa Brasileira. Esse carrapato, que se alimenta de sangue, pode ser encontrado principalmente em capivaras, o maior reservatório natural, mas eventualmente cavalos, bois cavalos ou cães podem abrigar esses artrópodes.


Importante lembrar que não é necessário o contato direto com os animais, pois os carrapatos podem estar no solo ou em vegetação rasteira como a grama, e se em proximidade maior com o ser humano, a infestação se torna factível.


Onde e quando o risco é maior?


R: Quanto mais próximo o contato com animais infestados, maior o risco de adquirir os carrapatos, principalmente em atividades de contato direto, como as cavalgadas. Contato mais próximo e prolongado com o solo de regiões infestadas, como deitar na grama, ou entrar no mato também são de maior risco.


Os parques grandes como o Ibirapuera são mais propícios para encontrá-los?


R: Se existissem animais que pudessem servir de reservatório, o lago do Parque do Ibirapuera poderia ser um local de risco urbano, como se observou no Parque Taquaral em Campinas ou no Campus da ESALQ, em Piracicaba. Porém, no Parque do Ibirapuera não há capivaras. Na cidade de São Paulo, as margens dos rios Tietê e Pinheiros abrigam algumas capivaras, mas o local definitivamente não é usado para lazer por conta da poluição.




Existe mais de um tipo de carrapato nestes locais?


R: Existem várias espécies de carrapato que podem infestar o homem, mas como já mencionado, o de maior importância médica no Brasil é o Amblyomma cajennense.


Quais doenças podem ser transmitidas por carrapatos?


R: Dentre as diversas doenças transmitidas por carrapatos em nosso país, se destaca a Febre Maculosa Brasileira (FMB), causada pela bactéria Rickettsia rickettsii. Com sintomas muito semelhantes à dengue (febre, manchas pelo corpo, dor de cabeça, mialgia e desâmino), a mortalidade da FMB chega a 50% dos casos. Em 2014 no Brasil foram notificados 136 casos de FMB, sendo que 53 evoluíram para óbito, segundo dados do Ministério da Saúde. Até maio desse ano, mais 12 pessoas já morreram pela doença no território nacional.


Outras doenças bacterianas que podem ser transmitidas por carrapatos são a Doença de Lyme (Borrelioses), a Babesiose e a Erliquiose, porém todas elas com menor impacto epidemiológico e letal em nosso país. Algumas Arboviroses, doenças causadas por vírus, podem ser transmitidas por carrapatos, mas a real importância desse vetor na cadeia dessas doenças no Brasil é desconhecida.



Uma pessoa pode morrer com a picada?


R: Não é a picada em si que mata, e sim a transmissão de agentes infecciosos, com a Rickettsia rickettsii causadora da Febre Maculosa Brasileira, que tem taxa de mortalidade perto de 50%.


Como se prevenir das doenças?


R: A principal arma de prevenção é evitar áreas sabidamente perigosas por estarem infestadas de carrapatos.


Porém, nem sempre é possível se esquivar do contato com a natureza e com animais, e dessa forma, a procura minuciosa de carrapatos pós-atividades potencialmente de risco consegue ser altamente eficaz, pois para a transmissão da Febre Maculosa Brasileira é necessário que o carrapato esteja implantado por um período maior que quatro horas. A procura deve ser feita com muita atenção, pois os carrapatos jovens, conhecidos como Micuins, são muito pequenos e difíceis de serem localizados.


Uma dica valiosa é não matar o carrapato espremendo entre as unhas, pois o esmagamento pode levar à liberação de fluído com alta concentração de bactérias contaminantes, que podem penetrar por pequenas lesões na pele.


O uso de roupas claras facilita a localização dos carrapatos, bem como vestimentas longas e sem frestas. Repelentes para o corpo e dedetização de ambientes são medidas preventivas adicionais, bem como o cuidado para eliminação de carrapatos em animais domésticos.


Se notar a presença de um carrapato na pele, o que fazer?


R: Retirar os artrópodes com cuidado, e sem esmagar o carrapato. Ficar alerta para sinais sugestivos de Febre Maculosa Brasileira já descritos acima, e procurar atendimento médico ao menor sintoma suspeito. Não se esquecer de referir ao médico o contato prévio com carrapatos.


Como tratar as doenças causadas por carrapatos?


R: Tanto a Febre Maculosa Brasileira, como as outras patologias transmitidas por carrapatos tem melhor chance de sucesso quanto mais rápido for a suspeita clínica e início da terapia. Para a FMB e outras doenças causadas por bactérias, é necessário o uso de antibióticos. Já para as arboviroses, o tratamento é de suporte clínico, a depender dos sintomas.



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