- Dr. Alexandre Naime Barbosa
Desmistificando o Zika: Resenha e Repercussões do Evento
Ontem (16) foi realizada na Unesp de Botucatu, com organização da Liga de Infectologia, a conferência “Desmistificando o Zika e outras epidemias”. O médico infectologista Alexandre Naime Barbosa foi o responsável pela condução do debate. Tivemos 334 presentes, e mais 77 assistindo pelo Periscope. Alunos de graduação da área de saúde (Medicina, Enfermagem, Biomedicina, Nutrição), Profissionais de Saúde (Médicos, Professores, Enfermeiros, Farmacêuticos) e membros da comunidade de Botucatu, como a Nani representando o bairro do Cambuí. Fruto da necessidade de informações confiáveis em tempos de tanto boatos e mitos.

A ignorância perambula nos períodos de epidemia”, cita Naime. Como tudo ainda é muito novo sobre o vírus, muita informação errada, equivocada e até distorcida circula entre a população. “Com o objetivo de discutir cientificamente o assunto, a Liga de Infectologia, em conjunto com a Disciplina de Moléstias Infecciosas da Faculdade de Medicina da Unesp promoveu a conferência “Desmistificando o Zika e outras Epidemias”. A intenção era discutir cientificamente as informações sobre o Zika e epidemias correlatas, que chegam em grande quantidade, muitas vezes causando dúvidas e confusão”, explica o infectologista Alexandre Naime.

Leia a reportagem do Diário da Serra sobre o evento em 17/Fev/2016 aqui.
O Brasil enfrenta hoje uma epidemia complexa, já que não estamos falando apenas do vírus Zika, mas de Dengue e Chikungunya. “Essa epidemia tem como figura central um só problema: a incompetência do poder público e da população em eliminar o Aedes. Esse mosquito entrou no Brasil com os colonizadores, e depois de muita luta, foi possível eliminá-lo de nosso país em 1955. Mas infelizmente, devido à falta de cuidados no controle dos focos de procriação, ele voltou no final da década de 1960, causando várias epidemias de dengue desde então. Além da dengue, o Aedes também tem o potencial de transmissão da Febre Amarela, mas essa felizmente é uma situação mais rara”, salienta Naime.
Além de uma “epidemia de Aedes”, vivemos uma grande epidemia de desinformação. “Vivemos uma época de muitas incertezas, pois o Zika vírus é um inimigo novo, com poucos estudos científicos concluídos, e, portanto, há que se ter cuidado com resultados de pesquisas incompletas e pessoas mal-intencionadas que querem propagar o pânico através de teorias da conspiração diversas”, salienta.

O Zika foi descrito pela primeira vez na literatura médica, no final da década de 1940, mas só ganhou notoriedade internacional em novembro do ano passado, quando foi associado a casos de recém-nascidos com microcefalia. “A partir dessa data, uma enxurrada de informações científicas se iniciou, algumas de fácil assimilação pela relevância, e outras sem ainda um significado claro. E ainda vários boatos gaiatos completamente infundados trouxeram preocupação às pessoas, que ficaram perdidas sem saber em que acreditar”, frisa.

Preocupe-se com o mosquito
Independente da doença que falarmos, seja Zika, Dengue ou Chikungunya, podemos evitar o problema de uma forma bem simples: eliminando os criadouros do mosquito Aedes. Sem mosquito, não tem doença.
Embora a Zika tenha ganhado grande repercussão na mídia é importante lembrar que temos uma doença, que já convivemos há muito mais tempo, que em termos individuais é muito mais grave: a dengue.
“Potencialmente a dengue é muito mais grave em termos individuais, pois a população em risco é maior que somente as gestantes, e o Brasil ainda têm índices alarmantes de mortes por essa doença todo o ano”, salienta o infectologista Alexandre Naime Barbosa.
Substância Pyriproxifen
No final de semana, diversas mídias e pessoas compartilharam notícias sobre a associação de uma substância (Pyriproxifen) utilizada no combate ao Aedes, com casos de microcefalia. A informação mais uma vez gerou dúvidas na população.
“Um boato espalhado por ambientalistas afirma que o uso do larvicida pyroproxyfen, produzido pela empresa Monsanto estaria por trás dos casos de microcefalia, principalmente no Nordeste e em lugares de maior pobreza. Isso é mito. Não existe nenhum estudo epidemiológico que comprove a associação do uso de pyriproxifen e a microcefalia. O pyriproxifen está entre os produtos aprovados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), que inicialmente soltou nota que dava margem à tal associação, teve que vir à público se retratar, alegando ter sido mal interpretada”, afirma Naime.