- Dr. Alexandre Naime Barbosa
Médico de Botucatu participa de Missão Humanitária no Sertão

Entrevista ao Jornal Diário de Botucatu em 25/11/2016
Com o intuito de atender à população extremamente pobre e sem assistência à saúde básica, um grupo de 14 profissionais da saúde se voluntariou a participar da “Missão Médica Voluntária ao Sertão do Piauí”. Dentre os voluntários está Alexandre Naime, médico infectologista e professor da Faculdade de Medicina de Botucatu, que se propôs a doar suas férias em prol da ação.
Naime recebeu o convite para participar da missão por meio da médica e apresentadora da TV Globo e do canal Discovery Chanel Karina Oliani, que em parceria com a Volunteer Vacations (entidade que organiza viagens de cunho voluntário com pessoas que doam suas férias para trabalhar ajudando os mais necessitados) planejou a missão que posteriormente deverá ser representada em um documentário.
O médico explica os motivos que o levaram a aceitar o convite. “Fui chamado pelo fato de já ter participado de outros projetos médicos voluntários, por ser infectologista e a presença de doenças infecciosas na região ser muito grande e por concordar em doar minhas férias trabalhando para quem mais precisa. Não pensei duas vezes, e aceitei o convite de primeira porque sabia da seriedade do projeto e da grande necessidade daquela população”.
A missão aconteceu entre os dias 1 e 9 de novembro e, deste período, dois dias foram gastos com deslocamento até as cidades e sete dias foram destinados aos atendimentos médicos. “As comunidades atendidas eram extremamente remotas, sempre a dezenas de quilômetros do centro dos municípios, que por sua vez eram muito pequenos. Dessa forma, íamos de camionetes até os locais, e nos instalávamos em escolas públicas dessas comunidades, montando toda a estrutura necessária, como consultórios médicos, de ginecologia e obstetrícia, oftalmologia, centro de procedimentos cirúrgicos, farmácia e odontologia”, coloca Naime.
Os quatro pontos de atendimento no sertão do Piauí foram montados na Serra do Inácio, no município de Betânia (onde os profissionais ficaram dois dias sem banho por falta de água), Batemaré, município de Paulistana, Tanque de Cima, município de Acauã e nesta própria cidade, e receberam muitas pessoas necessitadas de tratamento.
“A estrutura montada, apesar de simples, foi muito bem planejada e conseguimos resolver as demandas de saúde daquela população. Doenças básicas como verminoses, diarreias infecciosas, hipertensão, diabetes, infecções de pele, lombalgias e cefaleias eram as mais frequentes na clínica médica e na infectologia”, relembra Alexandre Naime.
No total, foram feitos quase 2 mil atendimentos voluntários e gratuitos para mais de 1.500 pessoas carentes, além da distribuição de mais de 100 tipos de medicações.
De acordo com o médico Alexandre Naime, além dos 14 profissionais da saúde que fizeram atendimentos nas áreas de Clínica Médica, Infectologia, Cirurgia, Pediatria, Oftalmologia, Ginecologia, Odontologia, Psicologia, Fisioterapia e Farmácia, o grupo contou com a colaboração de voluntários, também da área da saúde, que auxiliaram na logística, alimentação e demais ações fundamentais. Ao todo, o grupo foi constituído por 48 pessoas.
MÉDICO DESTACA SITUAÇÕES SIGNIFICATIVAS DO PROJETO
Dentre os muitos momentos marcantes da missão humanitária, o infectologista Alexandre Naime destaca duas situações opostas, mas igualmente enriquecedoras.
“Um grande diferencial da missão foi a presença do oftalmologista e de um processo de montagem de óculos em tempo real [OneDollarGlasses]. Dessa forma, após o diagnóstico de miopia ou astigmatismo feito pelo médico, o paciente já recebia seu óculos personalizado e gratuitamente. Foram entregues mais de 350 unidades”, relembra o médico.
“Outro momento marcante foi visitar o poço de coleta de água da população de Batemaré. Um barreiro frequentado por porcos e cabras, onde pude conversar com o sertanejo ‘Seu Zé’, que pegava água na sua ‘carroça-pipa’. Ele me contou da seca e da não ocorrência de outra fonte de água mais limpa. Não ter água de qualidade para beber é principal causa de mortalidade no mundo atualmente”, lamenta.
“A GRATIDÃO QUE ERA NÍTIDA NOS OLHOS DAQUELE POVO SOFRIDO NOS RECOMPENSAVA”
Segundo Alexandre Naime, a oportunidade de poder ajudar as pessoas carentes de maneira tão efetiva foi muito motivadora. “A experiência de poder mudar a vida das pessoas muito necessitadas, mesmo que seja com um pequeno gesto e por um curto momento, não tem preço. A gratidão que era nítida nos olhos daquele povo sofrido nos recompensava a cada momento, e já nos motiva a organizar a próxima missão”.
Ele finaliza apontando a importância de todos os envolvidos na missão. “O grupo formado se mostrou muito especial, desde o primeiro dia. Centenas de quilômetros rodados, muitas caixas e equipamentos pesados, sol escaldante, calor, poeira, falta de água e banho por dias se tornaram apenas histórias engraçadas graças ao foco e dedicação em dar nosso melhor para a gente tão sofrida, mas também tão querida do sertão”.